Entre o Porto e Lisboa nasceu em 2020, durante a pandemia da covid-19, a vontade de levar a música de uma ponta à outra do país. O movimento "Alfa Pendular" traz assim uma viagem entre guitarras e poesia que transcende tempo e espaço à Casa da Música, no Porto.
Alfa Pendular | Foto: Fernanda de Lima e Filipe Vilhena/Porto Cultural
Na noite de 7 de dezembro de 2023 o Café Casa da Música foi palco para um mergulho nos sentimentos mais profundos de Leo Bianchini e Cauê Nardi, dois dos integrantes do movimento "Alfa Pendular", que conta ainda com a participação de Marulo, Leo Middea, entre outros. Em 2020, durante a pandemia, o movimento "Alfa Pendular" procurou trazer para si a missão de fazer sua música presente “na Foz do Douro, nas falésias do Algarve ou na pedra do Arpoador” para ajudar a encarar o frio da solidão que as pessoas viviam em seus apartamentos
Num espaço intimista, luzes baixas, tablado, mesas e cadeiras pareciam não ser suficientes para acomodar a quantidade de espectadores que chegavam a todo momento. Porém, era notório que os tripulantes desta viagem se sentiam na sala de casa e durante o concerto iam criando uma ligação carismática com os artistas. Sem se mover viajavam de "trem" por todo o mundo, e mesmo os que não creem em magia são afetados pela alquimia que transportava seus pensamentos a um lugar de paz e aconchego.
Alfa Pendular | Foto: Fernanda de Lima e Filipe Vilhena/Porto Cultural
Refúgio musical
O conceito do espetáculo tem origem nas viagens tanto geográficas quanto transcendentais, mas pode tomar novos contornos dependendo do olhar do espectador. Leo Bianchini explica a essência deste projeto: “O Alfa Pendular foi um empréstimo do nome da linha de comboio, tem a ver com estar sempre viajando no território português. Mas também os dobramentos simbólicos disso, “Alfa” sendo a primeira letra do alfabeto grego e “pendular’ está relacionado ao pêndulo, do espaço-tempo relativo. Uma das canções que veio dar título ao projeto, chama-se Pendular - 'voando num comboio alfa-pendular' - voando no comboio.”
Cauê Nardi nos conta do início do projeto: “O Léo tinha acabado de chegar do Brasil e eu já vivia aqui há um ano, aí a gente se encontrou logo nesse início do ano, rolou uma liga muito boa de canções que a gente começou a escrever junto e várias histórias também vividas nesse período". O movimento "Alfa Pendular" começou durante a pandemia de covid-19 e partiu da necessidade dos músicos de terem uma rede de proteção do vírus sem deixar de proteger também a mente.
Segundo Leo Bianchini, a pandemia foi responsável por os unir: “Eu acho que a pandemia teve um movimento de junção, de facto. Porque primeiro que a gente tinha uma restrição social muito grande e meio que ia criando certos núcleos que sabiam que tinha uma relação de proteção do vírus e tudo mais". O cantor disse ainda que “foi um período importante, de auto-reflexão, de mudança pessoal para todo mundo e a afirmação de coisas que eu acho que só no confinamento que a gente sai da zona de conforto e chega lá nesse lugar.”
Alfa Pendular | Foto: Fernanda de Lima e Filipe Vilhena/Porto Cultural
Vida de artista
O paulista Leo Bianchini é um músico e intérprete brasileiro, que há 15 anos tem se dedicado a desenvolver sua carreira, sendo reconhecido principalmente por sua participação na banda 5 a Seco, seu projeto Músico Cidadão, além de sua notável carreira solo, desde 2019 vive em Vila do Conde. Já o carioca Cauê Nardi é um cantautor e instrumentista que se encontra na música desde os anos 2000, já fez parte de projetos reconhecidos com Suricatos e BeBossa, além de sua incrível carreira solo como músico indie folk, se mudou para Portugal em 2018. Ambos realizam apresentações por toda a Europa e além mar.
Alfa Pendular | Foto: Fernanda de Lima e Filipe Vilhena/Porto Cultural
Ter a arte como ofício oficial nunca foi considerado algo fácil, mas no caso de artistas estrangeiros e falantes de língua portuguesa isso cria uma barreira a mais, como Leo Bianchini conta: “Quem não é receptivo a novas ideias é o mercado, o mercado é muito fechado. E o mercado funciona de uma maneira em que as agências têm o monopólio dos contatos com as Câmaras Municipais, mas o público é receptivo. (...) Normalmente quem está nos festivais são bandas gringas, falante do inglês, Anglofônico, ou então os artistas que minimamente conseguem adentrar esse mercado, que é fechado” . Cauê Nardi ainda complementa: “É, em muitos festivais eu já vi que tem entrada sim, projetos que não têm uma proporção muito grande de público, de massa, mas que há. O interessante é que a gente consiga entrar para circular, para o público assistir e o público vai ser receptivo.”
Alfa Pendular | Foto: Fernanda de Lima e Filipe Vilhena/Porto Cultural
Foi possível perceber como mesmo as pessoas que apenas passavam pelo café eram impactadas por aquela sonoridade, mesmo que sem compreenderem a língua. Cauê Nardi afirma que “para a gente que é imigrante aqui, eu vivo aqui há cinco anos e estou nessa luta já de conseguir manter uma vida minimamente saudável com música autoral, que é muito difícil. Há, sim, alguns espaços como esse da Casa da Música, já é o terceiro concerto que eu faço aqui, então há, sim, espaços, mas não são muitos.”
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